quarta-feira, 30 de abril de 2014

Lenda Africana - O espelho da Verdade, O espelho de Olorum -





Conta uma tradição oral de matriz africana que no princípio havia uma única verdade no mundo. 
Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espelho. 
Assim tudo que estava no Orun, se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. 
Ninguém tinha a menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem perto do Orun, e bem perto do Aiyê.
Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamava Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. 
Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mão do pilão tocou forte no espelho, que se espatifou pelo mundo. Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo).Qual não foi a surpresa da jovem, quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda a atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única.E concluiu Olorum: "De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em qualquer parte do mundo, já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho, espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra".

Minha nota:
E, para entendermos o real significado da vida, é necessário que possamos compreender que não há uma única verdade, não há um único pensamento, não há um único caminho, não há um único ser... E se juntarmos cada pedaço que há dentro de nós com o outro, reconstruiremos o espelho sagrado, e então Deus poderá finalmente, refletir e mostrar que apenas juntos, podemos chegar até Ele.
 



sábado, 26 de abril de 2014

Lendas Indígenas - A lenda de Uirapuru




Uma das lendas envolvendo esse pássaro conta que duas índias muito amigas, viviam andando juntas para todos os lados, desde o amanhecer até ao entardecer. Um dia as duas viram um jovem cacique, muito bonito, e ambas se apaixonaram por ele, sem dizer nada uma à outra. Apenas deram a entender que estavam apaixonadas, mas sem dizer por quem. O tempo foi passando até que um dia revelaram a verdade uma à outra, sendo que ambas ficaram estupefatas com o fato de amarem o mesmo homem. Decidiram que deixariam o cacique decidir, e a preterida se conformaria. A história do amor das duas se espalhou pela aldeia, e os mais velhos resolveram perguntar ao cacique qual das duas ele amava. O cacique, envergonhado, respondeu que gostava das duas. Como não era permitido casar-se com as duas, ficou decidido que haveria um concurso de arco e flecha entre as duas no dia seguinte. No dia seguinte, o cacique avisou que aquela que conseguisse acertar a ave indicada por ele, em pleno vôo, se tornaria sua esposa. Quando uma ave muito branca passou voando alto, o cacique disse: - É essa! As duas atiraram, mas somente uma acertou. A que perdeu parecia conformada, mas aborrecida. O casamento foi realizado. A índia que perdeu foi ficando cada vez mais triste. Procurou um lugar distante e começou a chorar. Chorou tanto, que suas lágrimas se transformaram num riacho. Tupã, ao perceber tanta tristeza, aproximou-se, e a moça contou-lhe tudo. Tupã lembrou-lhe que saber perder é uma vitória, ao que a moça lhe disse que o que mais a afligia era a saudade que sentia da amiga e do cacique, mas que não tinha coragem de vê- los, pois perceberiam sua tristeza.
Perguntou a Tupã se não podia transformá-la em pássaro, pois assim poderia observá-los sem que eles soubessem. Compadecido, Tupã fez-lhe a vontade, e no lugar em que a moça estava surgiu um passarinho de aparência tão simples, que não chamava a atenção. O pássaro voou até a oca do cacique, e ficou ainda mais triste ao vê-los tão felizes. Tupã compadeceu-se novamente, chamou o passarinho e lhe disse: - De agora em diante, você será o uirapuru. Seu canto será tão bonito que a fará esquecer a própria tristeza. Quando os outros pássaros a ouvirem, não resistirão, e ficarão em silêncio. E assim é, até hoje: quando o uirapuru canta, os pássaros em volta se emudecem para ouvir seu belíssimo.
 


Uirapuru - Pássaro da floresta amazônica
 

A ave se esconde entre a robustez da vegetação, sua cor pardo esverdeado torna mais difícil a sua visualização em meio a tantas cores e formas que a exuberante Amazônia exibe. Se sua presença é difícil, seu canto é ainda mais raro, pode ser ouvido por apenas 15 dias por ano, mas de uma melodia tão bela, que o transformou em uma lenda.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A lenda de Ndanda Lunda

   

 Era uma vez uma viúva que nunca amou.  Ela casou sem conhecer o noivo, e ele logo morreu.  Ela ficava triste quando se falava em amor.  
        Um dia ela conheceu um homem que se dizia apaixonado.  Ela também gostou dele. Cada dia gostava mais.  Ele era muito alto, com pernas e braços enormes,  mas a cada dia que passava ele diminuía.  Até que virou um anãozinho. Continuou diminuindo e a mulher o guardava no seio. Por fim ele diminuiu tanto que desapareceu.
       A mulher sentiu muito, chorava dia e noite. Passado algum tempo ela conheceu outro homem, desta vez pequenino.  Ela começou a gostar dele, e ele começou a crescer. Quanto mais ela o amava, mais ele crescia.   Finalmente ele cresceu tanto que não passava na porta. Eles passaram a se encontrar do lado de fora.
      Ele continuou crescendo, tanto que ela sentava na palma da sua mão. Era um amor diferente, porque ela havia sido encantada por ele, que era o rei dos encantados. Ele colou as pernas dela e fez meio corpo de peixe, da cintura para baixo.  Cobriu o corpo dela de escamas prateadas, e pintou-lhe os cabelos dourado.   Em seguida levou-a à praia, chamou os peixes e apresentou-a como Kisimbi  (outro nome de Ndanda Lunda), a rainha das águas,  e entregou-a aos peixes, que a levaram em procissão.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Histórias - O leão e os gatos

Um leão encontrou um grupo de gatos conversando. "Vou devora-los", pensou.

Mas começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção no que diziam.

- Meu bom Deus - disse um dos gatos, sem notar a presença do leão.

- Oramos a tarde inteira! Pedimos que chovessem ratos do céu!

- E, até agora, nada aconteceu! - disse outro.

- Será que o Senhor não existe?

O céu permaneceu mudo. E os gatos perderam a fé.

O leão levantou-se, e seguiu seu caminho, pensando: "veja como são as coisas. Eu ia matar estes animais, mas Deus me impediu. Mesmo assim, eles pararam de acreditar nas graças Divinas: estavam tão preocupados com o que estava faltando, que nem repararam na proteção que receberam."

sábado, 5 de abril de 2014

Orixás - Lendas de Exú/Esú - Oferenda aos antepassados


Exu instaura o conflito entre Yemanjá, Oyá e Oxum
Um dia, foram juntas ao mercado Oyá e Oxum, esposas de Xangô, e Yemanjá, esposa de Ogum.
Exu entrou no mercado conduzindo uma cabra.
Ele viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia.
Aproximou-se de Yemanjá, Oyá e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orunmilá.
Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido.
Yemanjá, Oyá e Oxum concordaram e Exu partiu.
A cabra foi vendida por vinte búzios. Yemanjá, Oyá e Oxum puseram os dez búzios de Exu à parte e começaram a dividir os dez búzios que lhes cabiam. Yemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oyá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte.
Yemanjá disse: "É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais".
Oxum rejeitou a proposta de Yemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia.
Oyá intercedeu, dizendo que , em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio.
As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios equitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oyá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Yemanjá a maior parte.
Pediram a outra pessoa que dividisse equitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Yemanjá e Oyá não concordaram.
Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oyá. Mas Yemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oyá.
Não havia meio de resolver a divisão.
Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: "Onde está minha parte?".
Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo equitativo.
Exu deu três a Yemanjá, três a Oyá e três a Oxum. O décimo búzio ele segurou.
Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra.
Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun.
Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser.
Quando qualquer coisa vem para alguém, este deve-se dividi-la com os antepassados. "Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios."
Yemanjá, Oyá e Oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada.
Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Lendas dos Orixás - Exu, Oxum e o segredo da advinhação


 Conta-nos uma lenda, que Òsùn queria muito aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação. Para isso, foi procurar Èsù, para aprender os princípios de tal dom.
Èsù, muito matreiro, disse a Òsùn que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas era necessário Òsùn ficar sob os domínios de Èsù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo.
Em troca, ele a ensinaria.
E, assim foi feito.
Durante sete anos, Òsùn foi aprendendo a arte da adivinhação que Èsù lhe ensinava e conosequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èsù.
Findando os sete anos, Òsùn e Èsù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Òsùn resolveu ficar em companhia desse Òrisà.
Em um belo dia, Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Òsùn. 
Foi-se a tal ponto que Sàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Oyó .
Òsùn rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù.
Sàngó então irado e contradito, sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo.
Èsù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência.
Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Òsùn, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei.
Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Òsùn desvencilhar-se dos dominíos de Sàngó.

 Èsù, através da magia, pôde fazer
chegar às mãos de sua companheira, a tal poção.
Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada,
que voôu e pode então retornar à casa de Esù.